2006/11/01

No (in)Cumprir É Que Está O Ganho

O pontão que liga Urzelhe a Lobazes caiu esta semana. Caiu um pontão e a notícia talvez ficasse perdida no meio da enxurrada de tantas outras notícias sobre as cheias que assolaram este país.

Talvez ficasse perdida, mas não ficou... Perdidas ficaram as populações de Porto Rio, Morada, Casais de S. Clemente, Urzelhe e Cerdeiras, que agora se vêem obrigadas a percorrer vários quilómetros para apanharem a automotora para Coimbra ou Lousã.

E perdidas ficam todas as pessoas que queiram atravessar o rio Dueça naquela zona. Resta-lhes a possibilidade de saltarem de manilha em manilha sujeitas a partirem uma perna, na melhor das hipóteses. Mas, e acima de tudo, perdida está a qualidade de vida apregoada nas Grandes Opções do Plano da Câmara Municipal de Miranda do Corvo para 2006.

A obra de rectificação da estrada entre Urzelhe e Lobazes, deveria estar concluída em Março. Mas não ficou... A empresa Redevias, que teve um prazo de 180 dias para a sua execução, não cumpriu.

Não cumpriu e nem sequer foi penalizada. Pelo contrário, à referida empresa até foi concedida a prorrogação do prazo, por parte do executivo mirandense. Não pode ser! Quem não cumpre, deve ser penalizado.

Já passaram outros tantos meses, a obra continua inacabada, a empresa Redevias não cumpre pelo que lhe pagam e o executivo mirandense entra no jogo do faz-de-conta. Mas o caso não se fica por aqui.

Outra empresa - Luciano & Filhos - que tem nas suas mãos a construção das piscinas de Semide, obra inscrita nas Grandes Opções do Plano para 2006, também não cumpre os prazos de tal empreendimento.

Será que no incumprir é que está o ganho? Talvez assim seja para as empresas que não o fazem nos prazos estipulados, pois além de arrecadarem milhares de contos, ainda recebem outras tantas obras para execução.

Chega de brincar ao jogo do faz-de-conta! Ou se cumpre a lei e aplicam-se coimas ou quem ganha é quem não cumpre e perde-se na melhoria da qualidade de vida das populações.
O Núcleo do Bloco de Esquerda de Miranda do Corvo, 27 de Outubro de 2006

notas da CONVERSA SOBRE A QUALIDADE DAS ÁGUAS


No dia 7 de Outubro, pelas 15 horas, no Auditório da E.B. 2,3 de Miranda do Corvo, o Núcleo do BE de Miranda do Corvo, prosseguindo o seu ciclo de conversas em bloco, promoveu uma conversa sobre a Qualidade das Águas.

Na mesa estiveram Sérgio Seco, vereador da CMMC, Alda Macedo, deputada do Bloco de Esquerda e Maria de Lurdes Cravo, representante da Quercus. Também foi convidado João Damasceno da empresa Águas do Mondego de Coimbra, não tendo comparecido.

A conversa foi moderada por Sofia Rodrigues do BE de Miranda do Corvo. O núcleo do BE de MC pretendeu que a conversa fosse um espaço onde fosse reflectido sobre a qualidade das águas da rede concelhia, o funcionamento da rede multimunicipal de águas e o consumo deste bem essencial.

Segundo Maria de Lurdes Cravo, da Quercus, 1/6 da população global não tem acesso a água potável. A falta de água/ qualidade da água é um dos factores da crise ambiental. A questão da qualidade da água não tem fronteiras. MLC alertou para as vulnerabilidades do sistema de água pública e para a necessidade das autarquias estarem atentas e cumprirem o seu papel. Referindo-se ao rio que atravessa MC, MLC chamou a atenção para a transformação que está a ser feita do rio em canal e para a necessidade de serem “colocadas” espécies depuradoras para deixarem o rio menos poluído e menos artificial.

Para a deputada do BE, Alda Macedo, a água não é um bem apropriável, é um bem público. A lei diz que este bem público pode ser gerido por privados. No entanto, a água deve ser tratada, captada sob uma óptica de serviço público. A autarquia tem de ser responsabilizada pela gestão deste recurso e não pode usá-lo como um produto com fins lucrativos.

AM questionou quais as garantias do acordo entre a CMMC e a empresa Águas do Mondego e qual a origem do investimento. AM colocou as perguntas: foi exigida rapidez e qualidade da obra? como vai ser feita a verificação da qualidade da água da rede depois da obra terminada?; que estratégias tem a autarquia para reduzir os consumos?
Segundo Alda M, o PEAASAR não respeita a justiça social, pois é um princípio que vai obrigar os pobres de Lisboa a pagar mais cara a água para os ricos de Bragança a receberem mais barata. Para AM, o parâmetro adequado seria o do “consumo per capita”. “Não temos que ter uma ETAR em cada quintal, deve haver um abastecimento de acordo com a lógica de proximidade.”

Sérgio Seco foi questionado sobre quem paga o investimento, tendo respondido que são os fundos comunitários, por isso a obra tem que avançar. Para além dos fundos existe a participação da Câmara e do governo. Sérgio Seco admitiu que as tarifas irão aumentar, no entanto, quando inquirido como estava a água do concelho, respondeu que a mesma está boa.

O núcleo do BE de MC, propôs que os escalões de m3 não fossem por fogo mas de acordo com o número de elementos da família. O mais justo seria escalões per capita. A pergunta importante é: quantas pessoas gastam o quê? Para terminar, o núcleo do BE de MC deixou bem claro que “nós queremos poder confiar na nossa água da torneira”.

CONVERSAS DIVERSAS : MUROS QUE CAEM, MUROS QUE SE ERGUEM

Há 27 anos caía um muro: o de Berlim... Caíu um muro, mas ficaram de pé e sem pudor, muitos outros. Entretanto, novos muros se erguem por este mundo fora...

Prosseguindo o ciclo de Conversas Diversas, segue-se uma próxima sobre "Muros Que Caem, Muros Que Se Erguem", que contará com a presença de António Louçã, Mamadou Ba e Teresa Cunha.

Acontecerá no próximo dia 9 de Novembro - Dia Mundial Contra o Racismo - às 21h45. na Galeria Sta Clara, em Coimbra.

DEBATE

Revisão do PDM: uma oportunidade para a cidade ou para o negócio imobiliário?
com Pedro Bingre (ESAC) e José António Bandeirinha (DARQ/UC, Pró-Urbe)
moderação: Catarina Martins e Serafim Duarte (deputados municipais do BE)
31 de Outubro, 21.30, Galeria Santa Clara, Coimbra

2006/10/04

Actividades que se irão realizar brevemente em Coimbra e na envolvente:

4ªfeira (dia 11/10/06) em Coimbra
Conversa sobre REPÚBLICA e LAICIDADE
convidados : Fernando Rosas (BE) e Carlos Esperança (Ass. Rep. & Laicidade)às 21h45 na Galeria Sta Clara em Coimbra

Sábado (dia 14/10/06) na Mealhada
Sessão sobre SEGURANÇA SOCIAL
convidado : João Teixeira Lopes
às 21h30 no salão da Junta de Freguesia da Mealhada

conversa sobre a QUALIDADE DA ÁGUA

"Qualidade da Água"
convidados:
Alda Macedo (B.E.)
Fátima Ramos(C.M.M.C.)
Maria de Lurdes Cravo (Quercus)
e moderação de Sofia Rodrigues

7 Outubro E.B. 2,3 e Secundária Sábado - 15h30 Miranda do Corvo

2006/09/25

A QUALIDADE DA ÁGUA

Mudam-se as moscas, mas a(s) água(s) continua(m) na mesma!


A qualidade da água é muito importante. A água que sai das torneiras ou das fontes no concelho de Miranda do Corvo é de má qualidade. Esta questão das águas tem já feito correr muita tinta. Até este núcleo, com apenas um ano de existência, já escreveu e divulgou junto dos mirandenses um comunicado sobre esta questão. No entanto, o único líquido que corre de facto, é mesmo só a tinta.

O actual executivo municipal já atacava o anterior executivo por causa desta questão, uma vez que se arrastava e não se resolvia. Na altura, a celeuma à volta da água foi suficiente para ganhar alguns pontos junto dos munícipes/eleitores. Contudo, já no segundo mandato, o actual executivo, que antes apontava o dedo acusador, também não alterou a situação. Em Miranda do Corvo a câmara continua a vender um produto impróprio, com riscos para a saúde de todos de forma impune, usando palavras da actual presidente quando se concentrava em apontar falhas ao executivo socialista.

De acordo com análises feitas pela Delegação de Saúde concelhia, entre Junho e Agosto últimos, todos os pontos da rede pública analisados, revelaram água de má qualidade. A análise feita à água dos fontanários do concelho apresentou TRÊS fontes onde podemos ir matar a sede sem risco para a nossa saúde!

Mais grave do que a escassez de água potável é a inexistência de avisos que informem os munícipes desta situação. Quantos de nós não conhecemos pessoas que vão encher os seus garrafões ao Vale Salgueiro ou à fonte da Barroca no Carapinhal? Essas pessoas não têm lá nada que as informe que esse gesto constitui um perigo para a sua saúde, pois a água daquelas fontes é de má qualidade.

De acordo com a lei os resultados das análises da água da rede pública, habitualmente efectuadas pelas câmaras, poderão ser consultados nestas instituições e deverão ser afixados em editais, assim como nos centros de saúde, de modo a informar a população. É preciso informar acerca da qualidade da água, tal como já se faz noutros concelhos, em que na factura o munícipe é informado acerca da qualidade da água que consome.
É urgente criar as infra-estruturas necessárias à captação, tratamento, verificação e preservação da qualidade da água. Todos sabemos que as captações locais não são suficientes para satisfazer as necessidades do concelho e também sabemos que a rede de canos e condutas está degradada e já devia ter sido substituída. Obviamente que tal projecto implicará um grande investimento financeiro, mas será que para ter água de qualidade os mirandenses não merecem tal gasto? A não ser que caras estruturas em madeira sobre o rio numa zona mal iluminada da vila e alvo de constante vandalismo sejam mais prementes. Ou uma nova estátua na mais exígua rotunda da vila…

A solução para esta questão de nervos tem sido sempre a parceria com a empresa Águas do Mondego, mas tal como em todas as parcerias, a culpa tem sido sempre do parceiro. São eles que se têm atrasado no desenvolver dos projectos, são eles que não avançam apesar dos reiterados esforços e elevada pressão exercida sobre a empresa pela presidente da câmara. Mais uma vez, a única pressão existente neste domínio será certamente apenas essa da presidente, pois a água das nossas torneiras não tem pressão nem para ligar o esquentador à tardinha, negando-nos aquele banho merecido ao fim de um dia de trabalho.

Parece que agora é em Setembro que tudo vai avançar… Talvez seja, com um pequeno empurrão das primeiras chuvas de Outono. No entanto, não gostaríamos que esta questão se arrastasse ao sabor das estações do ano. Águas paradas são com certeza de má qualidade e gostaríamos de ver dedicado tempo e esforço para que a água volte a fluir com qualidade e transparência no nosso concelho.


O Núcleo do Bloco de Esquerda de Miranda do Corvo, 18 de Setembro de 2006

2006/09/01

SAÚDE PÚBLICA DE QUALIDADE

O que o Núcleo do BE de Miranda do Corvo temia, vai concretizar-se da pior forma: no próximo Sábado, dia 2 de Setembro, o Serviço de Atendimento Permanente de Miranda do Corvo encerrará durante o período da noite.

Não entendemos o encerramento sem se ver uma luz ao fundo do túnel. Para quando as Unidades Básicas de Urgência ou Pólos Avançados? A Política PS para a saúde quer tapar o sol com a peneira. É uma política meramente economicista. Tira do público para dar ao(s) privado(s). Queremos bons serviços públicos e não sorvedores de rios de dinheiro e de nula qualidade. Como é possível o encerramento dos SAPs, sem haver quaisquer alternativas?

Não deixamos de estranhar que aquilo que é apresentado como uma leitura estratégica da direcção da Associação para o Desenvolvimento e Formação profissional (ADFP), de Miranda do Corvo, antecipando-se às mudanças no SNS - a criação de um Hospital Clínica em Miranda do Corvo – tenha subitamente aparecido, como se nada fizesse prever tal.

Já, em 8 de Fevereiro de 2006, esta associação escreveu ao senhor Ministro da Saúde disponibilizando-se a assegurar o SAP, assim como uma unidade de cuidados paliativos para o concelho de Miranda do Corvo.

De igual forma, foi intrigante que, na convenção “ A Saúde em Miranda”, a 12 de Maio de 2006, onde deveriam de ter sido definidas estratégias concretas em defesa do Centro de Saúde de Miranda do Corvo, os munícipes tenham sido presenteados com uma projecção publicitando os serviços da ADFP.

Haverá algum jogo com um pau de dois bicos que desconhecemos?

O BE não pactua com jogos de interesses, defende uma política transparente. Sabemos que no final são sempre os mesmos a pagar.

Defendemos uma saúde pública de qualidade!

O Núcleo do Bloco de Esquerda de Miranda do Corvo
31 de Agosto de 2006

2006/07/03

A partir de hoje está online o portal esquerda.net (www.esquerda.net), um projecto novo de informação na Internet e com multimedia, ao serviço da acção política, da participação social, da defesa da liberdade e do socialismo. O portal de informação do Bloco de Esquerda terá uma actualização diária, crónicas de opinião e dossiers temáticos. Inclui sites de rádio (Esquerda.radio), de vídeo (TV Bloco), livraria online (Leituras à esquerda), cultura alternativa (Blocomotiva), os sites do Bloco, do Grupo Parlamentar e do Bloco no Parlamento Europeu, o jornal Esquerda e o Boletim Participação. Este será um projecto em constante inovação.

2006/06/29

COMUNICADO SAÚDE

Não engolimos SAPs


O Núcleo do BE de Miranda do Corvo não aceita aquilo que fomos alertando durante largos meses e que está prestes a concretizar-se da pior forma. Repudiamos veementemente o encerramento do Serviço de Urgência durante o período da noite, assim como o horário de funcionamento que nos quer ser imposto pelo senhor Presidente da ARS.

Faz hoje uma semana que Fernando Regateiro reuniu com a Comissão Municipal de Saúde de Miranda do Corvo para anunciar o que já todas/os sabiam: que o governo PS não arreda pé do encerramento dos SAPs sem que se vislumbrem luzes ao fundo do túnel quanto à criação de UBS (Unidades Básicas de Saúde) que nós designamos por PAS (Pólos Avançados de Saúde).

1. Demarcamo-nos das posições dos SAPOS locais:

- do PS que joga com pau de 2 bicos – votou anteriormente uma moção contra o encerramento do SAP de Miranda do Corvo, mas vai adormecendo a sua contestação embalado que está pela música do governo;
- do PSD que não pretende ser almofada do governo e opõe-se frontalmente ao encerramento do SAP de Miranda do Corvo, mas sabe bem com que linhas se podem coser os financiamentos do sector privado.

2. Demarcamo-nos dos SAPOS nacionais:

- também defendemos o fim do despesismo que existe em vários serviços públicos e não embarcamos no populismo tão do agrado das várias forças políticas do terreno;
- também defendemos as UBSs como serviços públicos de boa qualidade, mas a uma distância razoável, tanto em relação aos actuais centros de saúde como ao Hospital central;

No entanto, depois de Fernando Regateiro ter anunciado que as futuras UBSs se situariam a 60 minutos do Hospital Central, pasmámo-nos e questionamos:

a) haverá alguma UBS no distrito de Coimbra? Se vier a ser construída onde se situaria, no litoral?
b) Haverá alguma UBS nos próximos 2 ou 3 anos? Se houver, onde estão os tais projectos e financiamentos?

Se dúvidas havia, certezas há: leia-se o relatório da Primavera de 2006 do OPSS (Observatório Português de Sistemas de Saúde), págs. 60 a 67. Se não estão projectadas UBSs para funcionarem a curto prazo, não aceitamos o encerramento do SAP de Miranda do Corvo.

Por outro lado, o Núcleo do BE de Miranda do Corvo continua a acreditar que sem uma mobilização cívica da(o)s munícipes, tudo será feito e os princípios fundamentais pelos quais devemos lutar não passarão de simples murmúrios para o governo central. Será que não é suficiente o anúncio de encerramento, só depois de tudo concretizado é que a(o)s munícipes reagem em vez de agirem?


Cabe também aos vários quadrantes políticos unirem-se e arranjarem formas de luta, sem as tradicionais quezílias e protagonismos.

Não engolimos SAPOS! Defendemos uma saúde pública de qualidade!


O Núcleo do Bloco de Esquerda de Miranda do Corvo, 28 de Junho de 2006

2006/06/26

CONVERSAS DIVERSAS : TIMOR LESTE

TIMOR LESTE

convidados:

José Manuel Pureza
Luís Fazenda

28 de Junho 1º Andar 4ªfeira – 21H30 Galeria Sta Clara

2006/06/06

intervenção de Alda Macedo

Queremos discutir modelos de avaliação que valorizem o desempenho dos professores

Hoje, que é o Dia Internacional da Criança (dia 1 de Junho) faz todo o sentido colocar a educação das crianças e dos jovens no centro do debate parlamentar, trazendo à discussão a política educativa do governo, muito particularmente para rejeitar a forma desastrosa como a Ministra da Educação transforma o que devia ser uma política mobilizadora para resolver os graves problemas da educação com que o país se defronta, numa ofensa para com os profissionais que dão corpo e rosto a essa política. Romper com o cerco de anos de um modelo de desenvolvimento fundado na exploração intensiva do trabalho precário pouco qualificado que conduziu Portugal a uma extraordinária fragilidade obriga a equacionar seriamente o papel da escola pública e obriga a um programa concertado da sua qualificação. Obriga, sobretudo à resolução dos problemas maiores com que nos defrontamos hoje e que no essencial se traduzem em baixos níveis de proficiência cognitiva, elevadas taxas de insucesso escolar e elevadas percentagens de abandono escolar precoce. Só uma escola pública de qualidade pode começar a resolver estes problemas. Insucesso e exclusão são os grandes males de que padece a educação em Portugal. Tratar os professores como se de um bando de malfeitores se tratasse não só não resolve nenhum destes problemas como resulta na desvalorização da sua função social e no agravamento da sua desmobilização.
O que a Ministra da Educação está a fazer é o mesmo que um realizador de cinema que matasse a sua personagem principal. Sem ela o realizador fica sem argumento. Sem professores a Ministra da Educação fica sem actores que levem a cabo aquilo que precisa de ser uma reforma profunda mas também agregadora, mas também responsabilizadora de todos os intervenientes na educação. A escola não resolve sozinha os problemas que decorrem da pobreza extrema, da exclusão social, do desemprego, da violência desumanizada das nossas cidades. Não só não os resolve como é ela mesma a primeira vítima e é ela mesma que reflecte os primeiros sinais do agravamento das contradições sociais em que vivemos. Contudo, não sendo a solução milagrosa de todos os males, ela é um parceiro fundamental na promoção de progresso, de coesão, de emancipação.
Não existe transformação social sem conhecimento nem técnica; não existe transformação social sem arte nem criatividade; não existe transformação social sem sentimentos nem afectos. Revalorizar a educação é por isso a chave de qualquer projecto de desenvolvimento. Para tanto é essencial que a escola recupere um sentido e um valor para aquilo que são as suas competências específicas no campo da educação. Não basta produzir pequenas reformas que podem dar pequenos passos para produzir pequenas mudanças. E isso foi tudo o que o Governo conseguiu produzir ao longo deste ano de governação. Falta todo o resto, falta atribuir um valor real aos saberes de forma a ser capaz de seduzir as crianças, os jovens e os adultos para essa extraordinária aventura que é a descoberta do conhecimento. Falta tornar a escola numa escola verdadeiramente inclusiva, que não desiste de nenhuma das suas crianças, que conhece e interpela as comunidades onde está inserida. Falta desenhar projectos educativos que se dirigem a todos e a todas mesmo às pessoas que já desistiram de ter um projecto de vida. Tudo isto é o que falta para colocar a educação na fasquia mais alta da exigência. E tudo isto está por fazer. Não vale vir a Ministra da Educação e fazer batota ao jogo, transferindo responsabilidades pela falência da organização escolar e do poder político exclusivamente para os professores, injuriando toda uma classe pelo caminho.
Queremos uma escola exigente, uma escola exigente tem que ter profissionais de grande qualidade. Por isso, quando hoje discutimos as escolhas para a carreira docente acusamos as propostas do governo de não cumprirem essa finalidade fundamental: a de colocar a qualificação dos docentes no centro das medidas propostas. Queremos discutir modelos de avaliação que valorizem o desempenho dos professores, que lhes confiram responsabilidade, que reforcem a sua profissionalidade e que reconheçam a importância e o peso social do seu desempenho. No entanto não é possível equacionar modalidades de avaliação se não forem paralelamente equacionados os modos e modelos de formação inicial e contínua, bem como a forma de certificar as entidades formadoras que têm responsabilidade nesta área. Assim como não é possível equacionar um modelo de avaliação que não corresponda a um reconhecimento sistemático da qualidade do desempenho. Não nos conformamos com soluções fáceis e populistas como as que o governo colocou em cima da mesa. Deixar os professores reféns de pressões individuais dos pais ou dos resultados dos alunos dá a aparência de promoção da participação mas não é outra coisa que não seja um exercício de deformação do papel da avaliação, demolidor da decência mais elementar. Conhecemos o papel perverso que os rankings das escolas desempenharam. Sob a capa de transparência de informação tiveram um papel determinante no agravamento de processos de guetização das escolas. Conceber a avaliação dos professores e a sua progressão na carreira dentro da mesma lógica teria como resultado a criação de guetos dentro de guetos e seria extraordinariamente demolidor para a escola pública. A avaliação dos professores tem que ser instrumento para a retribuição das boas práticas pedagógicas e didácticas, tem que ser ao mesmo tempo um instrumento de aferição das necessidades de formação e de correcção de escolhas e percursos, assim como não pode deixar de ser equacionada na relação dinâmica entre o docente enquanto indivíduo e enquanto parte de uma organização complexa. Não é possível portanto aceitar um modelo de avaliação que tem um objectivo escondido que é o de conter e retardar o acesso dos docentes aos níveis mais remunerados da carreira docente. A defesa da escola pública não pode ficar limitada a declarações generosas de intenções que não correspondem às políticas que produzem. A escola pública é o garante da democracia em educação, ela é território privilegiado para colocar a educação ao serviço do desenvolvimento, por isso é indispensável que o mesmo grau de exigência de qualidade que lhe conferimos seja conferido à políticas educativas onde não pode haver lugar para cedências nem para a ausência de rigor nem para facilidade populista das propostas, e muito menos para a generalização da culpabilização dos professores que devem ser protagonistas privilegiados da mudança.

2006/05/31

CONVERSAS EM BLOCO "CHERNOBYL: 20 ANOS"

"CHERNOBYL: 20 ANOS"

Maria de Lurdes Cravo
Rita Ávila
Rui Silva

1 de Junho Cave
5ª feira - 21H30 Galeria Sta Clara

conversas em bloco

Realiza-se já na próxima 5ª feira (1 de junho) mais uma das Conversas em Bloco. Desta vez o tema será "CHERNOBYL: 20 ANOS" e contará com as presenças de Maria de Lurdes Cravo, Rita Ávila e RUI SILVA. Ela terá lugar na Cave da Galeria Sta Clara, a partir das 21h30.

Aparece! Traz um@ amig@ também...

2006/05/26

CONVERSAS EM BLOCO "EDUCAÇÃO"

“Educação: Que Qualidade?”
João Santo
José João Lucas
Representante da Câmara Municipal

Sábado – 27 de Maio – 15H
Biblioteca Municipal de Miranda do Corvo

Organizada pelo Núcleo do Bloco de Esquerda de Miranda do Corvo


2006/05/24

CONVERSAS EM BLOCO "EDUCAÇÃO"

Realizar-se-á no sábado (dia 27/5) uma conversa sobre educação, a partir das 15h, na biblioteca municipal de Miranda do Corvo, organizada pelo núcleo BE.
Segue texto feito pelo João Santo, sobre o que se pretende com a mesma.

"Sugeria que a conversa fosse sobretudo um espaço onde se pudesse reflectir sobre a temática da educação a partir de algumas ideias comuns, que serviriam como de ponto de partida para desmistificar algumas questões que estão presentes nos discursos habituais...

Entre elas: a estafada ideia da "liberdade de aprender e ensinar" que faz com que todas/os estejamos a pagar o ensino privado em desfavor do ensino público, a questão dos rankings co-mo estratégia para aferir a qualidade do ensino, a ideia populista que coloca as substituições como solução para o problema do insucesso escolar, fazendo crer que este esteja ligado ao absentismo dos professores, a "inculta" escola de hoje face aos padrões e práticas do passado, que levavam a que um aluno com a 4a classe "soubesse??" mais do que um aluno terminal do 9º ano, as políticas educativas que continuam a pôr a tónica nos conteúdos exigidos nos exames, quando paradoxalmente incentivam um saber mais prático, difícil de avaliar com os instrumentos avaliação utilizados, a noção de que educação é um somatório de escolas, carteiras, cadeiras e quadros negros/verdes, quando se pretende entrar na era tecnológica e de preparação para a mudança...

Enfim, analisar a consistência das medidas tomadas central e localmente para poder melhorar a escola e o acesso ao conhecimento..."

2006/05/22

CONVERSAS EM BLOCO "MULHERES: DIGNIDADE E LUTA(S)"

O Núcleo do BE de Miranda do Corvo na sequência das conversas temáticas "Conversas em Bloco" que tem vindo a desenvolver no concelho, promoveu uma sessão cujo tema foi “Mulheres: Dignidade e Luta(s), no dia 8 de Abril, pelas 15 horas, na Sala Polivalente da Biblioteca Miguel Torga. Na mesa estiveram presentes Alda Macedo, deputada do Bloco de Esquerda, Ana Costa, da Plataforma Portuguesa dos Direitos das Mulheres, Cristina Santos, da associação “Não te Prives” e Sandra Silvestre, da “Acção para a Justiça e Paz”. Júlia Correia, do Núcleo do Bloco de Esquerda de Miranda do Corvo, foi a moderadora.

Ana Costa começou por fazer uma reflexão sobre os Direitos das Mulheres numa era da globalização, “a questão da desigualdade de géneros já não pode ser tratada só a nível nacional”. Debruçou-se sobre o tema de tráfico de pessoas para fim de exploração sexual que movimenta elevadas somas, havendo um crime organizado internacional igual ao tráfico de drogas ou armas. O processo é quase sempre o mesmo: começa com a violação, retiram-se os documentos à vítima que fica dependente e subjugada. Quase sempre as mulheres traficadas vêm de países mais desfavorecidos.

Este crime só pode ser combatido através de parcerias e a nível internacional. Associado às redes de tráfico estão os grandes eventos, como será o Europeu na Alemanha onde se calcula que venham a ser traficadas 40.000 mulheres. Já estão a ser construídos mais bordéis e caixas de “performance” junto aos estádios.

A Plataforma Portuguesa dos Direitos das Mulheres não se pronuncia sobre legislação, mas sim sobre o tráfico. Aquando do Europeu 2004 em Portugal, em Coimbra as prostitutas aumentaram, principalmente prostitutas negras, pois os adeptos das duas equipas eram de países nórdicos e geralmente procuram a aventura “diferente”.

Cristina Santos focou a sua intervenção na transgeneralidade, lesbianismo e transsexualidade. Começou por referir que uma mulher lésbica é duplamente discriminada: porque é mulher e porque é lésbica. Deu vários exemplos de discriminação como Teresa e Helena, Liliana, Gisberta, que vêem os seus direitos atropelados em nome de uma normalidade que por si só é inexistente. “Não podemos esquecer que ainda há bem pouco tempo uma estudante, num shopping em Coimbra, viu ser-lhe vedada a compra de uma botas, simplesmente por ser de origem africana”.

Sandra Silvestre, da “Acção para a Justiça e Paz”, iniciou a sua apresentação com um documento cujo tema foi “Não basta termos razão” onde é abordada a questão da paridade: “Acreditamos que o sentido último do feminismo é uma cultura de paz”; “As mulheres são fazedoras de paz, uma democracia paritária, inclusiva e participativa, sem paternalismos, nem materialismos, é possível”.
Sandra mencionou a imagem estereotipada e sexista que é passada da mulher, a referência ainda existente das práticas masculinizadas do poder e na difícil tarefa de conciliar vida doméstica com vida profissional: “apesar dos avanços, a discriminação com base no género continua”.

Alda Macedo, deputada do Bloco de Esquerda, acredita na paridade e “nas leis da paridade que vão dar mais visibilidade à participação pública das mulheres.”; “ A paridade irá depois ter repercussões a nível da sociedade e começará a alterar os estereótipos e a romper com o círculo de reprodução de papéis tradicionais e estereotipados”.

Segundo Alda Macedo, “todos os dias assistimos à violência simbólica enquanto continuamos a ter a loura e a morena no anúncio da cerveja, por exemplo.” Para a deputada do BE, temas como o aborto, a mutilação genital, o direito à orientação sexual, não devem ser esquecidos, mas sim lembrados e discutidos. “Não devemos de ter medo de sermos feministas, até porque há vários grupos de feministas e o papel da mulher na sociedade não deve ser menosprezado ou diminuído pelo receio de utilizar um conceito que a nós diz respeito”.
Mirante



Imagens da Conversa Temática do BE

2006/04/04

CONVERSAS TEMÁTICAS : MULHERES DIGNIDADE E LUTA

O núcleo do Bloco de Esquerda de Miranda do Corvo irá promover já no próximo sábado (dia 8 de Abril) a conversa "Mulheres: Dignidade e Luta(s)".

Ela contará com a presença de Alda Macedo (deputada do Bloco de Esquerda), Ana Costa (Plataforma para Direitos das Mulheres), Cristina Santos (Não Te Prives) e Sandra Silvestre (Acção, Justiça e Paz).

Esta conversa será moderada por Júlia Correia e realizar-se-á, a partir das 15h, na biblioteca municipal de Miranda do Corvo.

2006/02/06

A DOENÇA DA SAÚDE

O Núcleo do Bloco de Esquerda de Miranda do Corvo não pode deixar que a expectativa em relação aos Centros de Saúde e, mais em concreto, em relação ao serviço de urgências de Miranda do Corvo, se perpetue sem que nada mais seja dito e feito.
Já há muito que todas e todos sabemos que as estruturas do Serviço Nacional de Saúde estão em ruptura. Não há novos médicos para substituir os que estão a reformar-se. Existe um problema de falta de recursos humanos que não podemos ignorar. Não é possível continuar com um serviço de saúde sem que haja o mínimo. É necessário repensar qual a utilidade de unidades subapetrechadas, em que a/o doente sabe que ali, só com sorte, conseguirá resolver o seu problema. É premente requalificar e não apenas retirar. Se o Ministério da Saúde está a pensar em encerrar sem criar alternativas, o BE opõe-se firmemente.
O Núcleo do BE de Miranda defende que deverá ser criado um pólo avançado de urgência em que convirjam um conjunto de unidades de saúde. Não é solução o encerramento dos serviços de urgência nos vários concelhos, uma vez que, os hospitais centrais, nomeadamente os HUC, ficariam sobrecarregados.
É necessário um serviço que funcione vinte e quatro horas por dia, com uma unidade de tele-medicina, um desfibrilhador, radiologia, um centro de análises, um call centre, uma ambulância devidamente apetrechada e a devida formação dos profissionais que continua esquecida.
È fundamental repensar as extensões dos Centros de Saúde abertas uma vez por semana. Valerão a pena os custos de um médico que se desloca para atender, durante duas horas, no máximo, dois utentes? De igual forma, é importante que o doente consiga ter consulta no próprio dia com o seu médico de família, sem ter que recorrer ao Serviço de Urgências, evitando a ida ao Centro de Saúde às cinco da manhã.
O poder autárquico não poderá ficar de fora e, muito menos, ignorar as suas responsabilidades. Para criar esse pólo são necessárias: boas acessibilidades, cooperação ao nível do investimento tecnológico, um espaço físico adequado, condições para um atendimento de qualidade em que as e os utentes sintam que ali tudo existe para servi-los.
Cabe aos cidadãos e cidadãs ter uma palavra a dizer, pressionando a Administração Regional de Saúde para que, com a máxima brevidade, apresente um estudo sobre a melhor localização desse pólo avançado. Naturalmente, caso já exista um parecer que indique o Centro de Saúde de Miranda do Corvo como o que apresenta melhores condições, até porque acabou de ser remodelado, deverá ser cuidadosamente cumprido.
Não se pode enterrar a cabeça na areia e aceitar como mero fatalismo aquilo que querem tirar, sem que sejam dadas alternativas. O núcleo do BE acredita ser possível tratar a doença da saúde através da mobilização cívica das/dos munícipes, sem espírito bairrista, mas com a plena consciência da defesa do direito à saúde. Com a saúde não se brinca.
Núcleo do BE de Miranda do Corvo, Fevereiro de 2006

2006/02/03

3ª FEIRA SOLIDÁRIA

Realiza-se amanhã de manhã, começando às 10h, a Terceira Feira Solidária em Miranda do Corvo, realizada pelo Ñúcleo do Bloco de Esquerda de Miranda do Corvo. Junto ao Mercado de Miranda.

Aparece!

2006/01/25

Resultados Eleitorais em Miranda do Corvo

Presidenciais 2006
CAVACO SILVA: 2973 (45.79%)
MANUEL ALEGRE: 1925 (29.65%)
MARIO SOARES: 1016 (15.65%)
JERONIMO SOUSA: 310 ( 4.77%)
FRANCISCO LOUCA: 249 ( 3.83%)
GARCIA PEREIRA: 20 ( 0.31%)
Legislativas 2005
PS: 3788 (53.54%)
PPD/PSD: 2019 (28.54%)
B.E.: 349 (4.93%)
CDS-PP: 283 (4.00%)
PCP-PEV: 280 (3.96%)
PND: 53 (0.75%)
PCTP/MRPP: 37 (0.52%)
POUS: 16 (0.23%)
PH: 15 (0.21%)
PNR: 4 (0.06%)
Câm. Municipal 2005
PPD/PSD.CDS-PP: 3814 (51.33%)
PS: 3068 (41.29%)
PCP-PEV: 199 (2.68%)
B.E.: 108 (1.45%)
Ass. Municipal 2005
PPD/PSD.CDS-PP: 3481 (46.84%)
PS: 3216 (43.27%)
PCP-PEV: 287 (3.86%)
B.E.: 178 (2.40%)
Legislativas 2002
PS: 3163 (47.47%)
PPD/PSD: 2562 (38.45%)
CDS-PP: 332 (4.98%)
PCP-PEV: 253 (3.80%)
B.E.: 114 (1.71%)
PCTP/MRPP: 28 (0.42%)
PPM: 28 (0.42%)
MPT: 20 (0.30%)
P.H.: 20 (0.30%)
PNR: 9 (0.14%)
POUS: 8 (0.12%)
Presidenciais 2001
JORGE SAMPAIO: 3344 (62.27%)
FERREIRA AMARAL: 1699 (31.64%)
ANTONIO ABREU: 144 (2.68%)
FERNANDO ROSAS: 124 (2.31%)
GARCIA PEREIRA: 59 (1.10%)

TEMPOS DE SEMENTEIRA

A eleição presidencial do passado dia 22 de Janeiro encerra um longuíssimo ciclo político. Foi um ano alucinante - ou ano e meio, se nos reportarmos às eleições europeias de Junho de 2004, no qual aconteceu de tudo: desde a morte trágica de Sousa Franco, em campanha na lota de Matosinhos; o naufrágio eleitoral da coligação de direita PSD-PP e a "fuga para a frente" de Durão Barroso - no caso, para Bruxelas; o intervalo publicitário de Santana Lopes, até à dissolução do parlamento.
O ano de 2005 não quis ficar atrás do seu antecessor, e foi o que se viu: terramoto nas legislativas de Fevereiro que varreu a direita da governação e deu uma maioria absoluta ao PS, liderado por José Sócrates; as trapalhadas do referendo à pseudo Constituição Europeia, enterrada pelos NÃO da França e da Holanda; o referendo em falta sobre a despenalização do aborto; as autárquicas em 9 de Outubro, logo seguidas pelo arranque de uma prolongada pré-campanha presidencial.
Costuma dizer-se que tudo vai bem quando acaba bem - não foi o caso, para as esquerdas, no passado Domingo. Mas é bom visualizar todo o cenário, evitando pessimismos estéreis ou euforias descabidas. Sem esquecer o pano de fundo da "guerra infinita", com os EUA e os seus "parceiros" atascados no Iraque e no Afeganistão, com o Irão e sabe-se lá quem se segue na mira... Um mundo em convulsão com uma Europa submissa, digna da estatura do seu actual Presidente da Comissão, onde Ângela Merkel tenta emergir como nova 'dama de ferro'.
A eleição de Cavaco Silva à primeira volta, anunciada há meses, esteve longe da coroação sonhada pela direita. E a escassa margem de 64 mil votos deixa um sabor amargo à esquerda que teve a segunda volta quase ao alcance da mão, bastando para tal que a abstenção baixasse 2 ou 3 pontos percentuais. Sem a pretensão de atribuir culpas, foi evidente a desmobilização do eleitorado socialista que se viu confrontado com dois candidatos - Soares e Alegre - digladiando-se.Tal como nas autárquicas, o eleitorado aproveitou as presidenciais para castigar o governo de José Sócrates, defraudado pela violação das promessas eleitorais: aumento da carga fiscal para quem já pagava impostos, sobretudo o IVA a 21%; congelamento salarial e ataques selectivos aos direitos dos trabalhadores, procurando dividir a função pública do sector privado e isolar certas categorias profissionais, para encobrir uma ofensiva global contra o mundo do trabalho. Algumas medidas do governo, como os aumentos de transportes e de bens essenciais e do imposto sobre os combustíveis, na véspera das eleições, deram o empurrão que faltava para a curta vitória de Cavaco Silva.
Paradoxalmente - e ao contrário do que pretendia este voto "de castigo"- esta eleição é um impulso ao agravamento da política anti-social dogoverno. A cooperação institucional anunciada pelo novo inquilino de Belémvai no sentido de apoiar todas as medidas antipopulares, exigindo "coragem"ao executivo para que faça o "trabalho sujo" e nele se desgaste, com o brinde adicional de, assim, ir preparando o terreno à recuperação eleitoral dos partidos da direita e do seu velho sonho: "um governo, uma maioria e um presidente", agora por ordem inversa...
A candidatura de Manuel Alegre absorveu boa parte deste voto de castigo, não apenas à má escolha do candidato oficial do PS mas também à política do governo Sócrates. A grande expressão eleitoral desta candidatura coloca-o perante uma contradição insanável: ou regressa ao redil do PS - onde não há espaço de alternativa consistente ao neoliberalismo - para desilusão de grande parte dos seus eleitores; ou arrisca uma nova formação, para a qual não antevejo espaço político, tendo até como antecedentes (e ressalvadas todas as diferenças) as candidaturas de Otelo e Pintasilgo.
É justo realçar o bom resultado da candidatura de Jerónimo de Sousa, recuperando algum eleitorado tradicional do PCP que compareceu em peso às urnas - e ainda bem! A candidatura de Francisco Louçã, com bom desempenho e propostas inovadoras - por exemplo sobre a segurança social, que precisa deter tradução no parlamento - não evitou o desvio de votos urbanos para Manuel Alegre. Aconteceu também na cidade de Beja, em contraponto às subidas em concelhos como Vidigueira, Odemira ou Barrancos e em muitas freguesias rurais.
O enraizamento desta nova esquerda plural, popular e não sectária vai fazendo o seu caminho, com muito trabalho pela frente: no parlamento, na rua, nas autarquias, sindicatos e associações populares. Sem descurar a unidade de acção com outras forças à esquerda da governação, numa altura em que nem há eleições à vista...
Alberto Matos

anexo à estação de miranda

foto de rafael vieira

2006/01/24

Atingimos os quinhentos visitantes no blog! Estamos de parabéns!

SEJAMOS JUSTOS EM VEZ DE MESQUINHOS

[No passado dia 9 de Novembro celebrou-se] o Dia Contra o Racismo. Não é possível deixar passar esta data em branco sabendo que continuam a existir manifestações racistas, sabendo que muitos de nós continuam a despoletar a indiferença e a discriminação em relação a pessoas oriundas de outros países. Em pleno século XXI, continuamos a colocar como bode expiatório de todas as nossas desgraças, todos aqueles que são diferentes de nós. Depende das zonas onde vivemos, mas não somos pobres a apontar o dedo: ora são os chineses, ora são os “pretos”, ora são “os do leste”. Já para não falar na prata da casa - os ciganos. Todos nos incomodam. Sendo nós um povo de emigrantes, pergunto-me quando paramos para pensar e aceitar de uma vez por todas que, tal como gostamos de ser bem recebidos nos outros países, também devemos receber bem quem chega ao nosso. Faz parte da cultura de um povo receber e aceitar todos aqueles que tenham outros costumes, outras formas de pensar, tendo muitas das vezes uma formação superior à sua. A fama de hospitaleiro não deve funcionar só para os turistas. A diversidade significa enriquecimento, diferença é sinónimo de valorização do ser humano. Até porque, muitas das vezes as pessoas são discriminadas só por uma questão económica. Se tiverem dinheiro, até podem ser às riscas ou terem a pele cinzenta que já não importa.
Inventar desculpas falaciosas como o desemprego, o crime e esquecer tudo aquilo que está a ser feito por um Portugal mais fraterno, mais aberto, mais desperto para o mundo envolvente, parece-me que não é a melhor via. Curiosamente foi precisamente num dia 9 de Novembro, mas de 1989, que se abriram as fronteiras da Alemanha Oriental tendo sido destruído o Muro de Berlim. Deu-se o triunfo da democracia e a derrota do autoritarismo. Parece-me que a destruição dos 166 quilómetros do Muro da Opressão simbolizam precisamente a abertura, neste caso, dentro do mesmo povo. Não quero entrar em questões como a dicotomia socialismo/ capitalismo, interessa-me sim salientar que, quanto mais fechado um povo é, maior propensão para o dogmatismo e obscurantismo existe. Sejamos justos em vez de mesquinhos. Todos temos a ganhar com isso.

Não posso terminar sem desejar um excelente mandato aos autarcas que tomaram posse no passado dia 28 de Outubro. Tal como a Sra. Presidente, Fátima Ramos, referiu no seu discurso de tomada de posse, no Bloco de Esquerda de Miranda do Corvo existem pessoas com vontade de colaborar. Respeitamos a votação da(o)s mirandenses nestas eleições autárquicas e desejamos que este novo mandato seja pautado pelo progresso e desenvolvimento do concelho, sendo ouvida(o)s toda(o)s a(o)s cidadã(o)s de Miranda do Corvo. Defendemos a participação cívica, o envolvimento das populações e uma perspicácia democrática que permita a abertura a todas as forças políticas do concelho.
Júlia Correia, Núcleo do BE de Miranda