2007/09/07

NEM SÓ AS PISCINAS METEM ÁGUA...

O Núcleo do Bloco de Esquerda de Miranda do Corvo não pode deixar de alertar para sérios lapsos da autarquia mirandense. Apesar de estar afixado na porta da piscina municipal que a mesma iria reabrir a 3 de Setembro, a verdade é que isso não aconteceu. De acordo com a Dra. Fátima Ramos, presidente deste município, há mais piscinas no concelho e não há necessidade de reabrir tão cedo a piscina municipal!
Claro que, o facto de haver aulas de natação pagas antecipadamente pela/o(s) utentes do clube náutico, parece não ser relevante as crianças do concelho ficarem sem essas aula. Não parece ser importante, uma vez que podem “chapinhar” em qualquer outra piscina do concelho. Talvez o município de Miranda do Corvo tenha esquecido as aulas de hidroginástica para pessoas com problemas de saúde, que não podem frequentar em “qualquer piscina do concelho”.

Perguntamos nós, para onde poderão ir a/o(s) utentes da piscina municipal? Para Semide ou Vila Nova? A autarquia fornece os transportes? Estarão lá os monitores? Se a piscina é para iniciar de acordo com o calendário do ano lectivo, então porque esteve aberta durante todo o mês de Julho? A verdade que falta contar é que talvez faltem trabalhadores da autarquia para que os organismos funcionem normalmente. Será que as férias dos funcionários não foram mal distribuídas?

Como alternativa existe a piscina da Quinta da Paiva. Depois do Festival “Rock na Quinta” poderá essa piscina ser utilizada de imediato? Já existirão funcionários para isso? Já para não falar nos milhares de litros de água que se estão a perder, uma vez que a piscina está rota e continua por ser reparada. Onde está a boa gestão de um recurso tão importante? Repor esses milhares de litros de água por água da rede significa uma elevada facturação. Quem pagará essa factura?

Há uma enorme falta de sensibilidade: um desrespeito enorme pelo trabalho daqueles que dedicam o seu tempo ao desporto. A cultura da aparência substitui o interesse não só da/o(s) mais jovens como daquela/e(s) que têm problemas de saúde.

O Núcleo do BE de Miranda do Corvo não pactua com a contagem de utentes numa determinada piscina, que sirva para a promoção de despiques mesquinhos com um determinado partido da oposição. Se a ideia é fechar uma piscina para que uma outra tenha um certo número de visitantes, isso parece ser bastante ingénuo. O poder autárquico deve ter em conta os interesses da/o(s) cidadãos..

O BE de Miranda vê o espírito bairrista como um travão ao desenvolvimento do concelho e um verdadeiro atentado aos direitos de toda/o(s) a/o(s) munícipes. Acima de tudo, toda/o(s) sabemos que uma má gestão significa má prestação de serviços.
Não pactuamos com tais procedimentos.

Miranda do Corvo, 6 de Setembro de 2007

P´lo núcleo do Bloco de Esquerda,
Carlos Correia

2007/06/29

No próximo domingo, dia 1 de Julho, o núcleo do BE/Lousã promove um picnic, a partir das 11h, na praia fluvial do Casal de Ermio. Cada um/a deverá levar o que quiser para comer, beber e confraternizar.

2007/04/27

CONVERSAS em BLOCO | media : liberdade de informação?

CONVERSAS EM BLOCO
media : liberdade de informação

dia 27042007 às 21h30, na EB2,3 de Miranda do Corvo
Intervêm na conversa : Carlos Ferreira (Mirante), José Maria Silva (Rádio Dueça) e Júlia Correia.

CONVERSAS EM BLOCO | media : liberdade de informação? (A)

Segue o texto "O Quinto Poder" de Ignacio Ramonet como documento introdutório provocatório para mais uma das conversas em bloco :

O QUINTO PODER

Contra os abusos dos poderes, a imprensa e os meios de comunicação social foram, durante longas décadas, no âmbito democrático, um recurso dos cidadãos. Com efeito, os três poderes tradicionais - legislativos, executivos e judiciais - podem falhar, enganar-se e cometer erros. Muito mais frequentemente, é certo, nos Estados autoritários e ditatoriais, onde o poder político é o responsável central de todas as violações dos direitos humanos e de todas as censuras contra as liberdades.

Mas, também nos países democráticos, graves abusos podem ser cometidos, embora as leis sejam votadas democraticamente, os governos resultam do sufrágio universal e a justiça - em teoria - seja independente do executivo. Por exemplo, basta que esta condene um inocente (como esquecer o processo Dreyfus, na França?); que o Parlamento vote leis discriminatórias, em relação a certas categorias da população (foi o caso nos Estados Unidos, durante mais de um século, contra os afro-americanos, e o que hoje acontece contra os cidadãos dos países muçulmanos em virtude do "Patriot Act"); que os governos conduzam políticas cujas consequências revelar-se-ão desastrosas para todo o sector da sociedade (é actualmente o caso, em numerosos países europeus, contra os imigrantes "sem papéis").

Num tal contexto democrático, os jornalistas e os meios de comunicação social frequentemente consideraram como um dever essencial denunciar estas violações dos direitos. Às vezes, pagaram-no muito caro: atentados, "desaparecimentos", assassinatos, como se constata ainda na Colômbia, Guatemala, Turquia, Paquistão, Filipinas e noutros lugares. É por esta razão que por muito tempo se tem falado do "quarto poder". Este "quarto poder" era em definitivo, graças ao sentido cívico dos meios de comunicação social e à coragem de jornalistas audaciosos, o que dispunham os cidadãos para criticar, afastar, contrapor, democraticamente, decisões ilegais que podem ser iníquas, injustas e mesmo criminosas, contra pessoas inocentes. Era, disse-se frequentemente, a voz dos sem-voz.

Após uma quinzena de anos, à medida que se acelerava a globalização liberal, este "quarto poder" foi esvaziado do seu sentido, tem perdido gradualmente a sua função essencial de contra-poder. Esta evidência chocante impõe-se estudando rigorosamente o funcionamento da globalização, observando como um novo tipo de capitalismo tomou o seu desenvolvimento, também não simplesmente industrial, mas sobretudo financeiro, em resumo um capitalismo da especulação. Nesta fase da globalização, assistimos a uma brutal confrontação entre o mercado e o Estado, o sector privado e os serviços públicos, o indivíduo e a sociedade, o íntimo e o colectivo, o egoísmo e a solidariedade.

O poder verdadeiro é doravante detido por um feixe de grupos económicos planetários e de empresas globais cujo peso nos assuntos do mundo aparece às vezes mais importante que o dos governos e os Estados. São eles os "novos senhores do mundo" que se reunem cada ano, em Davos, no âmbito do Fórum económico mundial, e que inspiram as políticas da grande Trindade globalizadora: Fundo Monetário Internacional, Banco Mundial e Organização mundial do Comércio.

É neste quadro geo-conómico que se produziu uma metamorfose decisiva no campo dos meios de comunicação social de massa, no coração da sua textura industrial.

Os meios de comunicação de massa (estações de rádio, imprensa escrita, cadeias de televisão, Internet) agrupam-se cada vez mais no seio de arquitecturas abundantes para constituir grupos mediáticos de vocação mundial. Empresas gigantes como News Corpo, Viacom, AOL Time Warner, eral Electric, Microsoft, Bertelsmann, United Global COM, Disney, elefónica, RTL Group, a França Telecom, etc), têm doravante novas possibilidades de expansão devido às perturbações tecnológicas. A "revolução numérica" quebrou as fronteiras que separavam anteriormente as três formas tradicionais da comunicação: som, escrita, imagem. Permitiu o aparecimento e o desenvolvimento da internet, que representa um quarto modo de comunicar, uma nova maneira de se exprimir, de se informar, de se distrair.

Depois, as empresas mediáticas são tentadas a constituírem "grupos" para reunir no seu seio todos os meios de comunicação social clássicos (imprensa, rádio e televisão), mas também todas as actividades a que poderíamos chamar sectores da cultura de massa, da comunicação e da informação. Estas três esferas eram até há pouco autónomas: por um lado, a cultura de massa, com a sua lógica comercial, as suas criações populares, os seus objectivos essencialmente mercantis; por outro, a comunicação, o sentido publicitário, o marketing, a propaganda, a retórica da persuasão; e por último, a informação, com as suas agências de notícias, os boletins radiodifundidos ou emitidos por televisão, a imprensa, as cadeias de informação contínuas, em resumo, o universo dos jornalismos.

Estas três esferas, antes tão diferentes, são gradualmente encaixadas para constituir uma só e única esfera ciclopiana no seio da qual se torna cada vez mais difícil distinguir as actividades que são da competência da cultura de massa, da comunicação ou da informação. Além disso, estas empresas mediáticas gigantes, estes produtores em cadeia de símbolos multiplicam a divulgação de mensagens de todo o tipo, onde se misturam televisão, desenhos animados, cinema, jogos de videos, CDs musicais, DVDs, edição, aldeias temáticas do tipo Disneylândia, desporto-espectáculo, etc.

Por outras palavras, os grupos mediáticos possuem doravante duas características novas: em primeiro lugar, ocupam-se de tudo o que é da competência da escrita, de tudo o que é da competência da imagem, de utdo o que é da competência do som, e difundem-no através dos canais mais diversos (imprensa escrita, rádios, televisões hertzianas, cabo ou satélite, via Internet e por todas as espécies de redes numéricas). Segunda característica: estes grupos são mundiais, planetários, globais e não somente nacionais ou locais.

Em 1940, num célebre filme, Orson Welles atirava-se "ao poder" de "Citizen Kane" (na realidade, um magnata da imprensa do início século XX, William Randolph Hearst). No entanto, comparado com os grandes grupos mundiais de hoje, o poder de Kane era insignificante. Proprietário dalguns jornais de imprensa escrita num único país, Kane dispunha de um poder anão (sem ser portanto desprovido de eficácia à escala local ou nacional), face aos arqui-poderes dos mega-grupos mediáticos do nosso tempo.

Estas hiper-empresas contemporâneas, por mecanismos de concentração, apreendem-se dos sectores mediáticos mais diversos de numerosos países, em todos os continentes, e tornam-se assim, pelo seu peso económico e pela sua importância ideológica, em actores centrais da globalização liberal. A comunicação (compreendendo a informática, a electrónica e a telefonia) sendo a indústria pesada do nosso tempo, estes grandes grupos procuram alargar a sua dimensão por incessantes aquisições e fazem pressão sobre os governos para quebrar as leis que limitam as concentrações ou impedindo a constituição de monopólios ou de duopólios.

A globalização, é por conseguinte também a globalização dos meios de comunicação social de massa, da comunicação e da informação. Preocupados sobretudo pela continuação do seu gigantismo, forçado a fazer a corte aos outros poderes, estes grandes grupos não se propõem mais, como objectivo cívico, ser um "quarto poder", nem denunciar os abusos contra o direito, nem corrigir os disfunções da democracia para poluir e aperfeiçoar o sistema político. Não desejam sequer erigir-se em "quarto poder" e ainda menos agir como um poder.

Quando, se for caso disso, podem constituir um "quarto poder", este acrescenta-se aos outros poderes existentes (político e económico) para esmagar por sua vez, como poder suplementar, como poder mediático, os cidadãos.

A questão cívica, que nos é colocada doravante, é esta: Como reagir? Como se defender? Como se opor à ofensiva deste novo poder que, em certa medida, traiu os cidadãos e passou com armas e bagagens ao inimigo?

Ignacio Ramonet in Le Monde Diplomatique

2007/01/17

Portugal na rota da modernidade

Faço parte de um grupo que acredita numa sociedade solidária, onde os direitos se exercem em igualdade. Acredito que a descriminalização da interrupção voluntária da gravidez, levando a que qualquer mulher a possa fazer no Serviço Nacional de Saúde, coloque todas as mulheres em situação de igualdade.

Todos sabemos que as mulheres com recursos económicos têm direito a abortar quando e onde quiserem (quem já não ouviu falar em Badajoz?), ao contrário das mulheres esmagadas pela miséria, pelo excesso de filhos, pela brutalidade dos maridos que muitas vezes as impedem de usar métodos contraceptivos. Quem já não ouviu falar nas agulhas de croché, na água com sabão, feito sem as mínimas condições de salubridade? Há ainda alguém que não saiba que isso continua a ser praticado levando à morte tantas mulheres, que acabam por deixar filhos pequenos sem amparo? Se falarmos em desmancho, as mentes sensíveis conseguem encarar a realidade? As famosas ervas, tomadas pelas gerações anteriores, foi por serem insensíveis?

Acaso alguém é contra a vida? Não acredito. Acho que continua a existir a desinformação, continua a haver uma forma desonesta de perseguir, criminalizar e discriminar as mulheres. Será que alguém fica indiferente às imagens de fetos, apanágio dos que são pelo não? Insistem, persistem, fazem acreditar que o obscurantismo é a solução em defesa da vida. O que os preocupa é a perseguição às vítimas.

Somos o único país da União Europeia onde a sida continua a crescer, temos taxas elevadíssimas de gravidez na adolescência, mas a igreja continua a demonizar todos os métodos anticoncepcionais. Há um profundo desrespeito pelos direitos humanos. Nenhum outro país europeu senta mulheres no banco dos réus por prática de aborto. Existe a brutalidade nua e fria da pátria autista, em relação à humilhação que sofrem as mulheres que não tiveram outra solução. Tenho a certeza de que não há nenhuma mulher que tenha prazer em abortar. Impera a hipocrisia que “compreende o sofrimento”, mas que não muda a lei em nome de uma vida, que muitas vezes acaba dentro de sacos de plástico. Custa ouvir a verdade? Pois custa. Pior é não aceitar o aborto legal, seguro, quando sabemos da existência de 18 mil casos por ano, quando sabemos que nos países onde o mesmo não é crime, a taxa de aborto desceu.

É urgente uma cultura de responsabilidade, não deixar que os 68,5% de abstenção de 1998 venham ensombrar este referendo. Diz-nos a todos respeito independentemente do que pensa o padre, o marido, a vizinha, a tia reumática.

Acredito num futuro transparente. No dia 11 de Fevereiro votarei pelo sim, para ter a certeza de que as minhas filhas já não terão que assistir a esta cruzada medieval contra a dignidade das mulheres. Não quero que sintam vergonha de viver num país que coloca as mulheres na clandestinidade do sofrimento. Quero que façam parte de um Portugal que já se encontre na rota da modernidade.

Júlia Correia
Núcleo do BE de Miranda do Corvo