2005/12/21

VILA NOVA



gerador eólico de vila nova
foto de rafael vieira

ALDEIA DO CORVO



vistas da aldeia do corvo - rossio do corvo
fotos por rafael vieira

ALDEIA DO GONDRAMAZ



vistas da aldeia do gondramaz, nas faldas da Serra da Lousã.
foto acima de escultura de Carlos do Gondramaz
fotos por rafael vieira

NATAL VS SOLIDARIEDADE = MIRAGEM

Natal.

Eis uma palavra que deveria rimar com partilha, solidariedade, humildade e tudo isto com uma grande dose de amor, alegria e saúde.

Infelizmente, o Natal transformou-se num mensageiro comercial e fez cada um de nós seu escravo. Porque é isso que somos: escravos consumistas. Os grandes grupos económicos comandam a nossa vontade e orientam a nossa vida. Quem desejar um ecrã de plasma e não tiver dinheiro, basta ir à banca; ou quem quiser comprar um carro, a banca está lá para transformar o sonho em realidade.

Gastam-se pipas de massa em roupas mas pede-se crédito para o aparelho dentário do filho. Não há dinheiro para uma alimentação equilibrada mas há dinheiro para o telemóvel porque, segundo a publicidade, este é indispensável para a nossa sobrevivência. Não há dinheiro para comprar livros aos filhos mas há dinheiro para ir ver o jogo de futebol.

Passando para um plano mais alargado (consequentemente mais revoltante), não há dinheiro para construir hospitais pediátricos, não há dinheiro para dar gratuitamente livros aos nossos alunos (como acontece nos outros países da Europa). Mas há dinheiro, isso sim, para campos de futebol, para pagar ordenados exorbitantes a juízes, médicos, directores gerais e jogadores de futebol (porque esses também são pagos com o dinheiro dos contribuintes, não esqueçamos!).

Qual é a relação de tudo isto com o Natal? Uma balança com pratos desiguais. O Estado e as autarquias gastam demasiado dinheiro em obras que muitas vezes só servem para deixar o nome de quem mandou fazê-las. Estas entidades desprezam o aspecto social e as verdadeiras necessidades do seu eleitorado.

O consumismo rima com egoísmo e indiferença, e estes sentimentos muitas vezes passam de geração em geração. Os pais acham que têm direito a concretizar os seus desejos. Os filhos também defendem a mesma posição. Vai daí que os nossos rebentos, que por sinal são bastante perspicazes, quando não conseguem alcançar os seus objectivos, fazem simplesmente chantagem. Os pais, por preguiça, desinteresse ou desinformação cedem aos caprichos dos filhos. Dar tudo a um filho não é educação e não é certamente amor, mas é fazer dele um ser pequeno, egoísta e desinteressado de tudo e de todos os que o rodeiam.

Substituir o amor por bens materiais é típico de uma sociedade consumista que perdeu os valores que devem reger uma sociedade justa, aberta, solidária e consequentemente democrática. A democracia não significa somente direitos mas também deveres. E um dos deveres da democracia é tornar a sociedade mais justa. É evitar que uns tenham tudo e outros nada tenham. E isto ensina-se. Ensina-se que a liberdade não deve servir de desculpa para o nosso egoísmo e indiferença. Virar a cara porque não conseguimos ver as imagens da fome ou da sida em África, pensar que nada pode mudar o rumo das coisas, achar que uma voz ou uma cruz num boletim de voto não faz qualquer diferença não é sinal de oposição, mas sim de conformismo.

Sinceramente, era tempo que este planeta, porque não é certamente um mal só nacional, mude de rumo. O nosso tempo já lá vai, o problema são aqueles que cá ficam e que certamente não têm culpa da nossa estupidez.

Por achar que as palavras por vezes não bastam. Porque dar o exemplo não custa nada e é a melhor maneira de avançar, o Bloco de Esquerda vai realizar uma feira solidária de venda de brinquedos educativos, livros, cds , cuja receita irá reverter a favor de uma instituição do concelho de Miranda do Corvo. Esta feira irá ser realizada pela primeira vez em Dezembro, mas o Bloco pretende continuar com esta iniciativa ao longo do próximo ano, eventualmente mensalmente. Queremos que a miragem se transforme em realidade. Solidariedade? Sempre.

Miranda do Corvo, 17 de Dezembro de 2005
Texto revisto, Dezembro de 2005