2006/05/22

CONVERSAS EM BLOCO "MULHERES: DIGNIDADE E LUTA(S)"

O Núcleo do BE de Miranda do Corvo na sequência das conversas temáticas "Conversas em Bloco" que tem vindo a desenvolver no concelho, promoveu uma sessão cujo tema foi “Mulheres: Dignidade e Luta(s), no dia 8 de Abril, pelas 15 horas, na Sala Polivalente da Biblioteca Miguel Torga. Na mesa estiveram presentes Alda Macedo, deputada do Bloco de Esquerda, Ana Costa, da Plataforma Portuguesa dos Direitos das Mulheres, Cristina Santos, da associação “Não te Prives” e Sandra Silvestre, da “Acção para a Justiça e Paz”. Júlia Correia, do Núcleo do Bloco de Esquerda de Miranda do Corvo, foi a moderadora.

Ana Costa começou por fazer uma reflexão sobre os Direitos das Mulheres numa era da globalização, “a questão da desigualdade de géneros já não pode ser tratada só a nível nacional”. Debruçou-se sobre o tema de tráfico de pessoas para fim de exploração sexual que movimenta elevadas somas, havendo um crime organizado internacional igual ao tráfico de drogas ou armas. O processo é quase sempre o mesmo: começa com a violação, retiram-se os documentos à vítima que fica dependente e subjugada. Quase sempre as mulheres traficadas vêm de países mais desfavorecidos.

Este crime só pode ser combatido através de parcerias e a nível internacional. Associado às redes de tráfico estão os grandes eventos, como será o Europeu na Alemanha onde se calcula que venham a ser traficadas 40.000 mulheres. Já estão a ser construídos mais bordéis e caixas de “performance” junto aos estádios.

A Plataforma Portuguesa dos Direitos das Mulheres não se pronuncia sobre legislação, mas sim sobre o tráfico. Aquando do Europeu 2004 em Portugal, em Coimbra as prostitutas aumentaram, principalmente prostitutas negras, pois os adeptos das duas equipas eram de países nórdicos e geralmente procuram a aventura “diferente”.

Cristina Santos focou a sua intervenção na transgeneralidade, lesbianismo e transsexualidade. Começou por referir que uma mulher lésbica é duplamente discriminada: porque é mulher e porque é lésbica. Deu vários exemplos de discriminação como Teresa e Helena, Liliana, Gisberta, que vêem os seus direitos atropelados em nome de uma normalidade que por si só é inexistente. “Não podemos esquecer que ainda há bem pouco tempo uma estudante, num shopping em Coimbra, viu ser-lhe vedada a compra de uma botas, simplesmente por ser de origem africana”.

Sandra Silvestre, da “Acção para a Justiça e Paz”, iniciou a sua apresentação com um documento cujo tema foi “Não basta termos razão” onde é abordada a questão da paridade: “Acreditamos que o sentido último do feminismo é uma cultura de paz”; “As mulheres são fazedoras de paz, uma democracia paritária, inclusiva e participativa, sem paternalismos, nem materialismos, é possível”.
Sandra mencionou a imagem estereotipada e sexista que é passada da mulher, a referência ainda existente das práticas masculinizadas do poder e na difícil tarefa de conciliar vida doméstica com vida profissional: “apesar dos avanços, a discriminação com base no género continua”.

Alda Macedo, deputada do Bloco de Esquerda, acredita na paridade e “nas leis da paridade que vão dar mais visibilidade à participação pública das mulheres.”; “ A paridade irá depois ter repercussões a nível da sociedade e começará a alterar os estereótipos e a romper com o círculo de reprodução de papéis tradicionais e estereotipados”.

Segundo Alda Macedo, “todos os dias assistimos à violência simbólica enquanto continuamos a ter a loura e a morena no anúncio da cerveja, por exemplo.” Para a deputada do BE, temas como o aborto, a mutilação genital, o direito à orientação sexual, não devem ser esquecidos, mas sim lembrados e discutidos. “Não devemos de ter medo de sermos feministas, até porque há vários grupos de feministas e o papel da mulher na sociedade não deve ser menosprezado ou diminuído pelo receio de utilizar um conceito que a nós diz respeito”.
Mirante



Imagens da Conversa Temática do BE

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