2005/09/08

Apresentação da candidatura à presidência da Câmara Municipal

"Neste feliz momento, encabeço um projecto novo, que pretende mudar Miranda do Corvo. Encabeço uma lista sem nomes sonantes, composta por gente simples, gente do povo, que não se revê em nenhuma das outras candidaturas.
Pretendemos romper com a tradição. Recusamos, desde já, o servilismo para com os interesses instalados. Defendemos um poder local verdadeiramente livre e transparente. Apostamos claramente na participação cívica de todas/todos mirandenses, no debate político, na gestão do município e na transparência das contas públicas. Somos uma lufada de ar fresco que vai varrer Miranda do Corvo.
No mês passado, um anel de fogo envolveu o concelho de Miranda do Corvo, levando grande parte da nossa floresta. Tendo desaparecido parte dos «pulmões do concelho», o belo verde dos montes deu lugar ao negro horrível das serras calcinadas e despojadas de vida, ao solo empobrecido, que abriu caminho à erosão e à aridez.
Urge proceder à reflorestação, pondo de lado a monocultura do eucalipto e do pinheiro, introduzindo folhosas, árvores da primitiva floresta mediterrânica como: azinheiras, carvalhos, castanheiros, cedros, ciprestes, choupos, oliveiras, pinheiros bravos e mansos e sobreiros, que davam outrora outro tom à floresta portuguesa.
Para isso é necessário proceder ao planeamento e emparcelamento das pequenas terras. Proceder à limpeza periódica da floresta, aproveitando os resíduos para a produção de biogás. Pôr o Centro de Biomassa a funcionar em pleno. Dotar a floresta de mais aceiros, pontos de água, postos de vigilância e haver mais educação ambiental com os técnicos da Câmara e do Ministério da Agricultura.
É urgente rever a política de utilização de solos e dos recursos naturais. Ao salvaguardarmos a floresta, salvaguardaremos a água doce, que é tão preciosa à vida. É urgente a conservação da água, a redução dos desperdícios e o melhoramento da eficácia das redes de distribuição. Todas e todos munícipes têm direito a saneamento básico e ao consumo doméstico de água independentemente do sítio onde moram.
Se pretendemos um verdadeiro desenvolvimento para Miranda do Corvo não podemos continuar a pactuar com a criação de betão sem infraestruturas. Devemos também apostar na recolha selectiva de lixo e na sua posterior reciclagem.
É premente avaliar, monitorizar e fiscalizar, fornecendo informação actualizada e creditada sobre o estado do ambiente, prevenindo e punindo as descargas ilegais de resíduos no ar, na água ou nos nossos solos. Como é possível que os nossos jovens não possam desfrutar dos nossos açudes, verdadeiras áreas de lazer e convívio, perante a inúndice que a água apresentar?
O Bloco de Esquerda defende a modernização e a electrificação do Ramal da Lousã. Defendemos ainda o alargamento dos horários e mais carruagens a circular na linha férrea, à hora de ponta.
As/os mirandenses viajam como sardinhas em lata, sem condições e de pé. A CP deve apostar claramente na manutenção e exploração das linhas férreas, devendo pôr de lado o encerramento e a entrega a privados da exploração das mesmas. Aliás, não se entende muito bem, como é que noutros países europeus se procede ao alargamento do número de quilómetros de via férrea e em Portugal se procede ao encerramento de ramais (exemplo: Sabor e Tua), em nome do lucro?
Defendemos ainda, a ligação da vila a todos os lugares do concelho, através de autocarros, com horários que sirvam as populações, deixando assim, de haver lugares inacessíveis no concelho e contrariando a lógica da desertificação do espaço rural.
O Bloco de Esquerda pretende com urgência o reforço da componente social do pré-escolar e 1º ciclo do ensino público, nomeadamente o alargamento de horários e prolongamento/ATL, que dê resposta aos munícipes que trabalham e não tem horário compatível com a actual mancha horária dos mesmos.
Comerciantes, feirantes e consumidores desejam a abertura do Mercado Municipal e a extensão da feira aos sábados. Não nos devemos esquecer que a outrora vila pacata de Miranda do Corvo se transformou num dormitório de Coimbra e que a grande maioria dos seus habitantes trabalham em Coimbra (cerca de 80%) e não tem possibilidade de pedir aos seus patrões dispensa às quartas-feiras, para vir à feira a Miranda do Corvo.
Essa medida evitaria assim o incómodo de as pessoas se deslocarem ao fim de semana aos concelhos limítrofes: Lousã, Coimbra, Poiares e Condeixa-a-Nova, para as compras. Será a única forma de os pequenos comerciantes fazerem face ao avanço das grandes superfícies comerciais.
Urge ainda apoiar as 58 unidades fabris e o comércio local, que se debatem com extrema dificuldade para sobreviver. Em risco estão os postos de trabalho das/os trabalhadores, que vêem com apreensão o espectro do desemprego e da fome a pairar no ar.
É pura demagogia por parte do executivo municipal vir falar na criação de mais duas novas zonas industriais, quando a falência ronda algumas das fábricas na Zona Industrial da Pereira. É caso para dizer que há gato(a) escondido(a) com rabo de fora.
Acreditamos que em Miranda não existem munícipes de 1ª e munícipes de 2ª. Devem ser criadas para todas/os as condições não só para fruírem do concelho, como participarem nas decisões importantes que a todasa/os dizem respeito. "

Mário Nunes, Candidato do BE à Presidência da Câmara Municipal de Miranda do Corvo
Discurso proferido no almoço de apresentação de candidaturas do BE à Câmara Municipal e Assembleia Municipal de Miranda do Corvo, decorrido em Miranda, dia 7 de Setembro de 2005

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