2005/09/08

Apresentação de candidatura à presidência da Assembleia Municipal

"A lista de candidatura do Bloco de Esquerda de Miranda do Corvo é composta por 13 mulheres. Continua difícil a integração feminina nas lista partidárias num país one a partilha de tarefas é uma batalha constante e onde a estrutura familiar assenta nas mães e nas esposas. O que nós, Bloco de Esquerda, não compreendemos é quando são as próprias mulheres a recusar a sua participação porque os maridos não concordam. E atenção que não se trata de mulheres com baixa escolaridade, mas sim, com cursos superiores, supostamente esclarecidas. Elas desistem sem tentar, cedem esquecendo a importância do seu envolvimento enquanto cidadãs. E quem teme as tempestades, bem sabemos que começa a rastejar.
Há um desencanto geral em relação à política e a dicotomia PS/PSD nada tem feito para cativar ou despertar as mulheres para a política quer a nível nacional, quer a nível local.
Vejamos o caso de Miranda do Corvo: existe um Clube da Mulher, como tão bem fica a qualquer autarquia. O Bloco de Esquerda nada tem contra os passeios e jantares femininos. Parece-nos, contudo, que não é assim que são debatidos os problemas, que o exercício da cidadania é incentivado, que as mulheres são alertadas para os direitos que lhe são inerentes. Não pactuamos com o Município de Miranda do Corvo quando discrimina as mulheres com contratos de trabalho precário, em que trabalham uns meses nunca sabendo se o seu contrato será renovado ou não. A rotatividade impõe-se e elas vão fazendo o ciclo do emprego / desemprego desesperando sem saber se voltarão a trabalhar ou não. O nosso lema é discutir, prevenir, agir e, sobretudo, respeitar os direitos de cada um/uma.
A nossa candidatura não defende uma vitimi zação das mulheres, nem tão pouco pretende despoletar uma guerra de sexos. A nossa ideia não é trabalhar contra, mas sim, trabalhar com. Sabemos - até porque os temos nas nossas listas, - que há homens que já participam na mudança. mas não podemos deixar de assinalar intervenções como a do Sr. Primeiro Ministro, Engenheiro Sócrates, quando confrontado com o número reduzido de mulheres no seu executivo, tenha dado a desculpa da inexistência de mulheres com capacidade para integrarem um governo. É típico provincianismo político-falta de visão que não lhe permite ver mulheres como uma Helena Roseta.
Com quotas ou sem quotas, não podemos continuar a assistir da plateia quando estão a ser abordadas questões que nos dizem respeito. O Bloco de Esquerda defende o referendo ao aborto porque acreditamos que as cidadãs e cidadãos deste país têm o direito a exprimir a sua vontade através do voto.
Cabe-nos a nós, mulheres, não deixar passar a oportunidade de decidirmos sobre o nosso corpo, os nossos sentimentos, a nossa vida. Temos o direito de ter os filhos que queremos, ou não os ter, se for essa a nossa vontade. A candidatura do Bloco de Esquerda em Miranda do Corvo, acha deveras interessante o argumento da defesa da vida. Que defesa é essa, quando às mulheres nas muitas empresas deste país, lhes é pedido que não engravidem. Ou aquelas que são imediatamente despedidas ou ostracizadas quando se sabe que estão à espera de bebé?
Defendemos e desejamos a particpação cívica como via para combater o autoritarismo político. Para isso nada melhor que os referendos, inclusive a nível local.
Não basta lutarmos por uma boa educação para as nossas filhas. De que lhes serve obterem bons resultados escolares, frequentarem as universidades se quando chegam ao mundo do trabalho auferem salários inferiores aos dos seus colegas? E isso não mudará enquanto os fatos cinzentos não forem verdadeiramente alternados com tecidos leves e coloridos. A política ganha com a nossa experiência, com a nossa sensibilidade sem que a mesma seja vinculada à maternidade.
Não é necessário transformarmo-nos em damas de ferro, copiar padrões existentes ou sermos uma simples fachada Barbie, manipulada pelos familiares masculinos mais próximos.
A candidatura do Bloco de Esquerda de Miranda do Corvo tem consciência de que não é fácil. Temos uma visão positiva e optimista da política, queremos ser uma voz activa no concelho. Não é correcto nem justo deixarmos para as/os nossas/os filhas/os o que é urgente fazer oje.
Para concluir, cito uma frase de Diana Andringa, jornalista: "Se não ligarmos à política, liga-nos ela a nós da pior forma possível."
Obrigada"
Júlia Correia, Candidata do BE à presidência da Assembleia Municipal de Miranda do Corvo
Discurso proferido no almoço de apresentação de candidaturas do BE à Câmara Municipal e Assembleia Municipal de Miranda do Corvo, decorrido em Miranda, dia 7 de Setembro de 2005

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